Quem esperava um Grande Prêmio da Espanha monótono e sem ultrapassagens se enganou redondamente. A corrida em Barcelona teve todos os elementos para deixar o público animado da primeira à última volta. Teve também o primeiro duelo real dos dois candidatos ao título deste ano: Lewis Hamilton e Sebastian Vettel. O alemão levou a melhor na largada, assumiu a ponta, mas o inglês não se entregou: arriscou uma tática ousada de duas paradas, colocou os pneus médios no meio da prova e fez seu último stint de macios, enquanto o rival da Ferrari colocou os médios na parte final da prova. Apesar disso, não foi a estratégia que decidiu a prova. Foram os dois pilotos, na pista. O tetra contra o tricampeão.
Na volta 38, o primeiro embate. Vettel saía dos boxes após sua segunda parada enquanto Hamilton vinha pela reta em velocidade. Os dois ficaram lado a lado na primeira curva, se tocaram e o inglês acabou brevemente fora da pista, mas retornou sem problemas. Hamilton então acelerou. Começou a tirar a vantagem de Vettel. E na 44ª passagem, abriu a asa móvel e fez uma tranquila ultrapassagem sobre o alemão da Ferrari. O piloto da Mercedes, então, teve de encarar um enorme desafio: fazer seus pneus macios durarem mais 28 voltas. E conseguiu, com direito até a melhor volta na 64ª. Um show de Hamilton, que reduziu a vantagem de Vettel para apenas seis pontos. O campeonato deste ano está aberto.
Foi uma corrida recheada de alternativas, sem dúvidas. E tudo começou na largada. Bottas saltou melhor que o companheiro Hamilton e teria condições de fazer a primeira curva lado a lado com o inglês. Mas o finlandês freou na placa de 150 metros, muito antes do aceitável até para uma trajetória conservadora, e deixou o companheiro livre para se manter na segunda posição. Fez o jogo da Mercedes. Por causa disso, acabou se colocando em risco: tocou em Kimi Raikkonen, da Ferrari, que bateu em Max Verstappen, da RBR. Tanto o finlandês quanto o holandês abandonaram a prova. Bottas seguiu na terceira posição.
Só que mais tarde, ele seria novamente decisivo na corrida. Ao segurar Vettel por nove voltas, Bottas permitiu a reaproximação de Hamilton. O alemão da Ferrari teve de passar o finlandês da Mercedes na marra, em uma belíssima manobra. Mas a ação do companheiro de Hamilton permitiu que a estratégia escolhida pela equipe alemã funcionasse. Mas isso é parte do jogo, claro. Bottas trabalhou pela Mercedes, que já mostra claramente em quem vai apostar neste ano. O finlandês acabaria abandonando a prova algumas voltas depois, com o motor quebrado. Aliás, seu segundo problema do tipo neste fim de semana.
Os abandonos de Raikkonen, Bottas e Verstappen permitiram o primeiro pódio de Daniel Ricciardo na temporada. O australiano da RBR fez uma corrida segura, sem ser ameaçado e foi o único piloto além de Hamilton e Vettel a não tomar uma volta na corrida. Quem pode comemorar muito na Espanha é a Force India, sem dúvidas. A equipe anglo-indiana aumentou sua sequência com os dois carros na zona de pontuação para cinco corridas e com seu melhor resultado no ano: o mexicano Sergio Pérez em quarto e o francês Esteban Ocon em quinto. De quebra, o time se consolidou na quarta posição do Mundial de Construtores e ainda se aproximou da RBR no campeonato. Um belíssimo resultado.
Belíssimo resultado também do alemão Pascal Wehrlein, com a carroça da Sauber, que corre ainda com o motor de 2016 da Ferrari. Ele foi o único a apostar em uma tática de apenas uma parada, teve um desempenho constante e acabou em uma brilhante oitava posição, marcando os primeiros quatro pontos da equipe suíça na temporada. Não dá para dizer o mesmo da McLaren, que terminou apenas em 12º com Fernando Alonso, após sofrer um toque de Felipe Massa na confusão da primeira curva. Já Stoffel Vandoorne cometeu um erro primário, bateu no brasileiro da Williams e acabou fora da corrida. De positivo, apenas que o motor Honda não apresentou problemas. Um alento para a única equipe zerada no ano.
A Williams teve um desempenho decepcionante durante todo o fim de semana. A equipe não conseguiu fazer os pneus funcionarem em seus carros. Ainda assim, Felipe Massa fez uma boa largada, chegou a estar em quinto, mas deu azar no toque com Alonso na primeira curva e perdeu muito tempo. Depois ainda se envolveu na disputa de Hamilton e Vettel pela liderança nas voltas finais. Massa tentou abrir para o tetracampeão, mas a curva era complicada e o alemão reclamou do brasileiro, que terminou em 13º, pela segunda corrida seguida. O novato canadense Lance Stroll teve mais um desempenho pífio e acabou apenas na 16ª e última posição. Mais uma prova para a equipe inglesa esquecer.
Para encerrar, a imagem do fim de semana. Quem não ficou com o coração partido ao ver aquele garotinho chorar com o abandono de Kimi Raikkonen logo na largada? Pois a Fórmula 1 resolveu fazer alguma coisa por ele. Thomas, de cinco anos, veio de Amiens, norte da França para assistir à corrida com seus pais, Jourdain e Coralice. Eles foram convidados pela Ferrari e pela organização da F1 para conhecer os boxes e ter um encontro com Raikkonen, que até sorriu! O garotinho ganhou um boné autografado e o dia mais feliz de sua vida, com certeza. E a Fórmula 1 ganhou um fã para sempre, com certeza. Humanizar a categoria. É a americana Liberty Media, sua nova dona, no caminho certo para aumentar a base de torcedores ao redor do mundo. Sensibilidade e marketing caminhando juntos.